quinta-feira, 15 de setembro de 2011

O homem triste


Eu não lembro quantos anos tinha quando dei meu primeiro beijo. Também não lembro quem foi, nem onde foi.
Quando completei meus 18 anos, conheci meu primeiro namorado, ficamos juntos quase quatro anos. Pouco tempo depois que rompemos, conheci meu segundo, ficamos juntos por volta de dois anos.  Eu não queria ter vários namorados. Acabei me fechando um pouco para relacionamentos, pois queria que o próximo fosse o ultimo, mesmo que não preenchesse todos os pré-requisitos inconscientes da pessoa perfeita, baseados nos erros e defeitos dos amores do passado.  Além disso, eu já não era mais tão jovem e sabia que não poderia experimentar o amor novamente pelo simples sabor de um gesto. Mas o próximo sempre será o último. Eu era um inocente clichê. Durante uns dois anos, continuei só, isso não quer dizer que não tenha me apaixonado, paixão pode ser de um só, mas amor é pra dois. Acabei tendo relacionamentos de isopor, daqueles que duram no máximo um mês ou menos que isso.
A cada ano que passava achava cada vez mais difícil viver outro relacionamento sério e que não tivesse uma data de validade escondida em algum lugar. Tentei compreender a mim e a alma das pessoas, o amor, o comportamento, tudo, através dos livros e da arte. A grande massa masculina é totalmente previsível, o homem é pura vaidade. “Quero conhecer a feiura e amar uma exceção”.
Em um dia qualquer, numa rua qualquer, não lembro bem o motivo que me levara ali naquela hora e nem onde deveria ter ido. Recordo que foi exatamente neste caminho que vi o homem triste. Ele passou por mim e sorriu. Instantaneamente comecei a segui-lo. Não tentei me esconder entre as pessoas, ou evitar seu olhar quando voltava o rosto para trás, pelo contrário, acho que se soubesse seu nome teria gritado, andava rápido e em alguns momentos estendi minha mão para não o perder de vista. Sem saber exatamente para onde estávamos indo, me deparei com o homem triste parado em um beco sem saída. Cheguei o mais próximo possível daquele homem, ele não disse nenhuma palavra e eu tão pouco, estava completamente perdido dentro daquele olhar. Inexplicável, mesmo com um lindo sorriso no rosto, aquele homem me parecia extremamente triste, como se uma lágrima fosse cair de seus olhos a qualquer momento, não conseguia parar de procura-la dentro deles. Cheguei bem perto do seu rosto, queria mergulhar naquela piscina azul. O beijo foi inevitável. Em alguns momentos rápidos eu sempre abria meus olhos à procura dos dele, que estavam fechados. Beijar alguém de olho aberto é quase uma falta de respeito, pensava eu, então tornava a fecha-los. Foi impossível não se apaixonar por aquele homem lindo e triste, mais pela tristeza do que pela beleza. 
Antes de sairmos dali ele resolveu quebrar o gelo e trocamos algumas poucas palavras. Eu queria ver aqueles olhos úmidos mais uma vez. A única coisa que consegui fazer a vê-lo sair foi expressar através do olhar a tristeza que estava sentido por sua partida. Talvez seja ridículo pensar assim, mas acho que foi exatamente neste momento, de alguém imerso em tristeza, que ele realmente gravou minha imagem em sua memória.
No mesmo dia, à noite, assim que cheguei a minha casa, acessei meu facebook e vi que havia uma nova solicitação de amizade. Poucas fotos. Nada que revelasse muita coisa.
Essa história não tem um grande fim. Nunca soube realmente o motivo da tristeza desse homem e nunca toquei no assunto ou o questionei a respeito. Sempre que fazíamos amor eu terminava em lágrimas e orgasmos, fixava meus olhos nos dele e via uma lágrima rolar em algum lugar lá no fundo, isso me emocionava e me fazia ama-lo mais que a mim mesmo. Foram sempre nesses momentos que eu dizia que o amava. O “eu te amo” saia da minha alma, como se quisesse protege-lo, como se traduzisse “eu te compreendo”, como se quisesse um pouco daquela tristeza pra mim para que ele não sofresse tanto sozinho. Eu era completamente dele nessas horas. O homem triste achava estranha minha reação, se assustou alguns momentos, mas depois acabou por se acostumar. Após alguns anos decidimos morar juntos, e fomos muito felizes nessa época. Talvez tenha sido exatamente esta felicidade o motivo do nosso fim.

Perfumes e Amores

Senti o perfume. O seu perfume de tempos atrás. Acredito que hoje não seja mais o mesmo, com certeza já mudou de cheiro...assim, para afirmar a si mesmo e aos outros, de uma forma muito discreta, como toda atitude vaidosa sua, que alguma coisa em você esta diferente. Uma mudança de dentro para fora, como se o novo perfume exalasse de sua alma e não de seu corpo. Então, sabendo que corria o risco, resolvi me por a prova e fui traído pelo meu próprio olfato. No mesmo instante que senti o aroma, na velocidade de uma inspiração, o ar chegando aos meus pulmões e o cérebro, naquela mesma fração de segundos, trouxe ao mesmo tempo as lágrimas nos meus olhos e a sensação que senti no dia que te conheci, aquela felicidade anestesiante, que sai arrancando a velha pele da alma, porém não se sente dor, somente prazer...prazer.