quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Como ele veio parar aqui?


Tenho 31 anos, meu nome pouco importa, não faria diferença nenhuma, qualquer pessoa poderia estar contando essa história. Sou uma mulher comum, com pensamentos e atitudes incomuns, e isso muda tudo, mas meu nome pouco importa. 
Há mais ou menos uns dois anos, após várias tentativas frustrantes na vida real, resolvi dar uma chance ao mundo virtual e iniciei uma conversa com um homem que julguei de perfil interessante. O meu perfil era simples, poucas fotos, poucas informações, sempre tive medo, não medo de expor as informações como se alguém fosse usá-las para sequestro ou coisa do tipo, não, medo de me expor demais e ninguém realmente se interessar. Sempre fui estranha, cheia de limites, limites na cama, nojo de muita coisa, mania de limpeza, quase um “toc” na verdade, nunca fiz sexo anal, coisas horríveis passam pela minha cabeça e eu jamais iria conseguir fazer sexo oral neste mesmo homem novamente, este já foi um grande progresso da minha parte. Ficamos na virtualidade por alguns meses, mensagens de texto, ligações, e-mails. E confesso que esse amor virtual estava me deixando quase uma mulher completa, me sentia bem, amada, realizada e não precisa vê-lo pessoalmente, dividir minhas coisas, meu apartamento, minha cama, nada, era perfeito. Até o dia em que ele simplesmente sumiu, seu perfil havia sido deletado, o celular sempre desligado, foi um choque para mim, passei alguns dias sem conseguir sair da cama, somente levantava para tomar banho. Nunca havia passado pela minha cabeça encontrá-lo pessoalmente, eu sempre evitei isso. Eu tinha certeza que quando saíssemos pela primeira vez, em qualquer lugar que fôssemos eu iria errar de alguma forma. Na virtualidade éramos vaidade e eu morria de medo de tirar essa pele. Deitada na cama, tomei uma decisão: eu iria procurá-lo. Não era mais tão jovem assim, não podia e nem queria desperdiçar essa chance. Mandei uma carta para o endereço que havia me fornecido na primeira vez que me convidou para jantar em seu apartamento. Senti-me ousada ao extremo, não sabia se havia encontrado outra pessoa, se havia mudado de cidade, se havia morrido e no final da carta ainda pedi que não me respondesse o convite, que caso não comparecesse eu iria entender. O convite era para um jantar, em meu apartamento, no fim de semana que estava por vir, um sábado à noite.  Senti-me viva novamente, fui ao shopping, ao cabeleireiro. No dia combinado eu organizei tudo, cozinhei, decorei a luz de velas, comprei vinhos e queijos. Tudo estava perfeito, só faltava ele. Faltava? Confesso que em certos momentos eu até esquecia que era para ele tudo aquilo. Pois bem, alguns minutos antes do combinado a campainha toca, e era ele, isso me irritou um pouco, pois tive que me maquiar as pressas. Trouxe-me flores, deveria ter pensado nisso antes, em minha casa só havia flores de plástico, mas tudo bem, seriam as primeiras, coloquei em um lindo vaso próximo a janela da sala. Eu não sabia por que, ou sabia bem, não estava me sentindo a vontade, na minha cabeça eu achava que aquilo era um erro, que forcei demais a mim mesma. Enquanto aquele homem sentado em minha frente comia e falava, comia e falava, eu travava uma luta interna. Até o momento em que fui vencida. Quando ele acabou de comer e sorriu dizendo que a comida estava ótima, eu vi um pedaço da salada grudada em seu dente. Foi o fim. Eu não conseguia mais prestar atenção em nada, aquele pedaço verde aparecia quase sempre, por que ele falava sorrindo e isso me irritava ao extremo, eu tive nojo daquele homem, nojo de ele estar em minha casa, nojo da comida, não conseguia mais comer, nem beber nada, este ato representava trazê-lo pra dentro de mim, e eu não era capaz. Numa questão de segundos, um filme passou pela mente, lembrei-me de todos os meus ex-namorados, lembrei-me de como nossos relacionamentos eram superficiais, não havia intimidade, era um sexo sem intimidade, com limites, um sexo com vergonha do meu sexo, mas era também o único momento em que se podia dizer que estávamos juntos, pois fora da cama eu tinha o meu mundo e eles o deles. Nunca usei o banheiro na frente de algum deles, nunca limpei nariz ou espremi espinha e cravos deles nem eles a mim, nunca cortei unhas deles, nunca comi do prato, ou algo já mastigado, ou parte de algo já comido, nunca lavei cuecas deles, nunca deixei a mostra por muito tempo as partes do meu corpo que não gosto, como uma cicatriz que tenho nas costas, nunca me depilei na frente deles, um monte de “nuncas” nos distanciava. Eu comecei a me questionar se essas atitudes realmente são necessárias em um relacionamento, se essa falta de pudor é realmente bem vinda, se isso contribui de alguma forma para unir duas pessoas, se isso é demonstração de amor e carinho. E aquele homem que eu dizia que estava apaixonada perdidamente estava ali na minha frente, e quem era ele afinal? Eu não ouvia nada do que ele dizia. Num impulso, que não sei de onde veio, me levantei e beijei sua boca, foi um beijo que nunca havia dado na vida, com muita língua e saliva. No fim, o pedaço verde em seu dente não estava mais lá, e eu estava feliz, talvez eu tivesse até engolido. Por incrível que pareça não tive nojo. Bebemos mais vinho e nesta noite fiz o melhor sexo da minha vida. Durante o sexo lembro que engoli um pêlo dele, foi nessa hora que eu tive a certeza que estava perdidamente apaixonada e que ele agora fazia mais parte de mim do que a minutos atrás.
Para minha decepção tudo não havia passado de um sonho. Nunca mais vi aquele homem virtual. Conheci meu marido em um restaurante barato aqui perto de casa. Estávamos almoçando, ambos sozinhos, com mesas bem próximas e ele não parava de fazer sinal para que eu tirasse um pedaço de salada que havia grudado em meus dentes.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Do meu samba



E o samba toma conta de mim. Construo um letra, uma melodia, pode ate ser de amor, mas nunca triste. Quem tem o samba no pé leva também o sorriso no rosto. Posso falar o que quiser, o samba é assim, nele cabe tudo. Cabe eu, cabe você e até nos dois juntos, só basta querer. Minha vida é um samba. De muitos acordes, só pra enfeitar, sem cair na cafonice. Tudo que escrevi até hoje pode vir a virar samba, é sempre assim, ninguém morre de amor. Ainda ontem fiz um samba para pedir perdão. De peito vazio, escrevo samba pros amigos, das coisas boas que vivi e dos lugares que conheci, de todos eles foram nas rodas de samba onde fui mais feliz. Hoje levo no choro da cuíca a dor de um amor romântico. Um partido-alto que mesmo sem ter partido nenhum, não me quis. Ah, o samba, meu samba. Se minha vida um dia virar enredo de escola e ecoar na avenida, que cada carro alegórico leve o nome de um grande amor que tive, essa será minha última homenagem. Pois eu sou e serei amor até a última batida. 

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Ninguém Quer Um Bom Partido


O que eu não entendo
É porque não sou bom partido
Se preencho todos aqueles pré-requisitos
Quais são os teus?
Podem até ser infinitos

Ego ferido
Dores de um amor romântico

Ainda sinto o gosto ácido
Das tuas palavras em minha boca
Da tua boca na minha
Do teu arrependimento silencioso, malicioso
Me corroendo, ardendo, gritando, pulsando


E dentre os mortos e feridos
Estou eu
Fui atingido no coração
Diabo, travestido de Cupido
Eu vi que havia um calibre 32 em tuas mãos