Era noite, chovia e eu agradeci a Deus pela
chuva que se misturava à minhas lágrimas, disfarçando um pouco da minha
ansiedade. Um pouco mais ao longe vi que você vinha caminhando, ainda não havia
percebido a minha presença em frente a sua casa, achou que fosse uma pessoa
qualquer se protegendo do dilúvio. No momento em que a distancia revelou minha
face, na pouca luz que havia no local, você parou, ficou imóvel, olhando nos
meus olhos e eu nos teus. Não falamos nada, porém muitas palavras foram ditas.
Na minha cabeça eu podia ouvir Zizi Possi cantando em italiano e eternizando a
tua imagem dentro da minha alma, como que impressa em meu avesso, pois assim
que fechava os olhos eu te via, molhado, sério, transparente e ainda posso
ouvir alto aquela música italiana que tocava. Mais uma vez eu respeitei teu
momento, mesmo com teu rosto todo molhado eu pude perceber a primeira lágrima
que caiu de teu olho direito, trazendo você de volta a uma realidade e eu
respeitei, vi você caminhar arrastado até as escadas, subir, entrar em casa e
não acender as luzes. Eu continuei ali, sabia que não voltarias, mas ainda não
tinha certeza se era capaz de me mover, depois de horas as luzes da tua casa
continuaram apagadas e eu fiquei imaginando se você já dormia, ou se estava em
pé encostado atrás da porta. Então a chuva começou a parar e eu finalmente
consegui me mover e erguer os olhos ao céu.
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