terça-feira, 11 de maio de 2010

Uma cena


Era noite, chovia e eu agradeci a Deus pela chuva que se misturava à minhas lágrimas, disfarçando um pouco da minha ansiedade. Um pouco mais ao longe vi que você vinha caminhando, ainda não havia percebido a minha presença em frente a sua casa, achou que fosse uma pessoa qualquer se protegendo do dilúvio. No momento em que a distancia revelou minha face, na pouca luz que havia no local, você parou, ficou imóvel, olhando nos meus olhos e eu nos teus. Não falamos nada, porém muitas palavras foram ditas. Na minha cabeça eu podia ouvir Zizi Possi cantando em italiano e eternizando a tua imagem dentro da minha alma, como que impressa em meu avesso, pois assim que fechava os olhos eu te via, molhado, sério, transparente e ainda posso ouvir alto aquela música italiana que tocava. Mais uma vez eu respeitei teu momento, mesmo com teu rosto todo molhado eu pude perceber a primeira lágrima que caiu de teu olho direito, trazendo você de volta a uma realidade e eu respeitei, vi você caminhar arrastado até as escadas, subir, entrar em casa e não acender as luzes. Eu continuei ali, sabia que não voltarias, mas ainda não tinha certeza se era capaz de me mover, depois de horas as luzes da tua casa continuaram apagadas e eu fiquei imaginando se você já dormia, ou se estava em pé encostado atrás da porta. Então a chuva começou a parar e eu finalmente consegui me mover e erguer os olhos ao céu.

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