Acordei de sobre-salto, assustado, coração acelerado, inquieto, corri para me olhar no espelho e fiquei por vários minutos estático. Aquela pessoa que estava a minha frente não era a mesma que se deitou ontem para dormir. Eu havia mudado completamente, não falo simplesmente de mudança física, seria por demais sutil para tal alarde. E essa forma tão brusca de mudança me deixou com um certo medo, até que eu pudesse compreender o que realmente havia acontecido. Peguei álbuns e fotos antigas para me ver e cada vez que me olhava tinha a absoluta certeza de que não era eu, então as rasguei sem medo, com um sorriso no rosto, quase que eufórico, deletei minha imagem do passado. Ainda não posso lhes dizer em detalhes quem é este que agora faz parte de mim, mas hoje me delicio em descobri-lo, em entendê-lo. Confesso que as vezes sinto um certo pânico, afinal de contas, é uma necessidade quase que fisiológica saber quem somos. Foi preciso perder muita coisa nessa estradinha de barro de contra-mão, convicções, valores, crenças, julgamentos de valor, amores, bens materiais, noites de sono...foi preciso beirar a esquizofrenia e recomeçar a absorver tudo novo de novo, dando lugar a esse eu mais atualizado, esse eu mais sensível, esse eu livre, esse eu que respira amor e saí pelo mundo deixando suas mensagens de que nada mais quer da vida a não ser amar.
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